A Universidade Federal de Lavras (Ufla), que virou assunto por ter uma turma com apenas uma aluna, inaugurou seu novo campus há três anos. A estudante Isadora Rezende compartilhou sua rotina sem colegas de sala no campus de São Sebastião do Paraíso (MG) nas redes sociais. A história viralizou.
Isadora Rezende entrou na primeira turma do bacharelado interdisciplinar em Inovação, Ciência e Tecnologia (BICT), e apenas 12 de 90 vagas foram preenchidas, segundo ela. A já pequena lista de alunos continuou a reduzir quando cinco dos 12 deixaram o curso.
Além disso, Isadora e os colegas tiveram de decidir quais seriam suas especialidades dentro da área: engenharia de software, elétrica ou de produção. E apenas ela seguiu para engenharia de produção. Os colegas também atrasaram o cumprimento de disciplinas obrigatórias —e Isadora acabou pegando matérias eletivas ligadas à engenharia de produção. Com isso, ficou sozinha em sala. Ao UOL, ela contou os prós e contras de fazer aulas sem colegas, apenas com o professor em sala.
O campus de São Sebastião do Paraíso fica no sul de Minas, perto da divisa com São Paulo. Cidades grandes como Franca e Ribeirão Preto ficam a cerca de 75 km e 107 km, respectivamente. A cidade de 70 mil habitantes foi escolhida por apresentar características semelhantes às de Lavras, com forte presença da cafeicultura e da pecuária, e por estar em um raio de 150 km sem a presença de um campus de uma universidade federal, segundo a Ufla. O campus tem área de 150 mil metros quadrados.
A unidade abriga o Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (Ictin) e oferece o bacharelado interdisciplinar em Inovação, Ciência e Tecnologia (BICT). Esse curso tem duração de três anos e pode ser emendado com uma formação em engenharia, de mais dois anos. Ou seja, após a conclusão do BICT, o aluno pode optar por continuar os estudos e se formar engenheiro (são três opções de engenharia: software, produção e elétrica).
O campus de São Sebastião do Paraíso tem 29 professores, todos doutores e com dedicação exclusiva ao campus. Em nota, a Ufla destaca que, além das aulas, eles também atuam em “pesquisa, extensão e inovação”, o que “amplia o impacto acadêmico e científico do campus”.
Atualmente, 124 estudantes estão matriculados no campus de São Sebastião. O campus da universidade oferece 180 vagas por ano, distribuídas em duas entradas semestrais. A universidade reconhece os desafios de atrair mais alunos. Segundo a Ufla, o formato do BICT e a forma como aparece no Sisu “foi um desafio logo no momento inicial da implantação do campus”.
“Como os cursos específicos de engenharia não aparecem diretamente como escolha no Sisu, torna-se fundamental uma comunicação mais ampla sobre as possibilidades do modelo interdisciplinar, ainda um modelo em crescimento no Brasil. Além disso, o período pós-pandemia trouxe mudanças no comportamento dos jovens em relação ao ensino superior”, disse a Ufla, em nota ao UOL.
Base antiga
Apesar de a “filial” ser nova, a universidade de Lavras tem 116 anos de existência. Ela foi fundada em 1908 por um pastor da Igreja Presbiteriana, o americano Samuel Rhea Gammon, sob o nome de Escola Agrícola de Lavras, sendo federalizada em 1963. A faculdade é pioneira em projetos envolvendo a agropecuária. Promoveu a Primeira Exposição Nacional do Milho, a Primeira Exposição Agropecuária do Estado de Minas Gerais e introduziu um dos primeiros tratores a arar terras brasileiras.