Por: Marco Bissoli
Desde o início, a intensa e multifacetada carreira musical de Maria Teresa Madeira encontra-se marcada por experiências importantes, seja no campo artístico, seja no campo acadêmico.
Bacharel em piano pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Música pela Universidade de Iowa (EUA) e Doutora pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), ela tem se destacado cada vez na cena musical brasileira.
Maria Teresa Madeira teve a oportunidade de estudar com Anna Carolina Pereira da Silva, Heitor Alimonda, Miguel Proença, Arthur Rowe, Daniel Shapiro, Myrian Dauelsberg, Jacques Klein, Sergei Dorensky, Daisy de Luca e Carmen Prazzini, mestres com quem se aperfeiçoou em interpretação.
Foi professora do curso de graduação do Conservatório Brasileiro de Música e desde 2009 é professora da UNIRIO, onde ministra aulas nos cursos de bacharelado e de extensão.
Sua discografia conta com mais de 30 CDs. O mais recente trabalho, com 17 obras do compositor brasileiro Henrique Alves de Mesquita, será lançado pelo selo Naxos em 2025. Suas gravações com a obra integral de Ernesto Nazareth ganharam os prêmios da Música Brasileira e Bravo! de Cultura em 2016.
Como solista esteve à frente de várias orquestras, entre elas, Sinfônica Brasileira, Petrobras Sinfônica, Cedar Rapids Symphony, University of Iowa Chamber Orchestra e Banda Sinfónica de la Ciudad de Córdoba (Argentina). Apresentou-se como camerista ao lado de alguns dos mais importantes artistas do país, como Paulo Sérgio Santos, Altamiro Carrilho, Alceu Reis, Aloysio Fagerlande, Martha Herr, Rosana Lamosa, Pedro Amorim, Rildo Hora, Nicolas Krassik, Maria Bragança, Paulo Mendonça, Léo Gandelman e Quinteto Villa-Lobos.
Maria Teresa Madeira bateu um papo com a Confraria Nota Azul para falar de sua carreira e também sobre o seu concerto de câmara que abre a série Saraus Clássicos Cariocas 2024, promovido pela instituição, e que acontece no próximo dia 18, às 19h, na rua Francisco Otaviano, 15, salão P, em Copacabana.
Sob a curadoria de Romulo Pizzolante e Dea Backeuser, o concerto contará com a participação especial do violinista Adriel Kelcio da Silva, integrante da OSB e Camerata Laranjeiras. O violinista participou de turnês em países como Noruega e Suécia. Ele começou a tocar pocket com 7 anos de idade numa igreja e passou por diversos projetos sociais ligados à música. “Estou muito entusiasmado em mais uma vez estar com a Confraria Nota Azul, que agora proporciona esse momento memorável com a fantástica pianista Maria Teresa Madeira”, afirma.
A Confraria Nota Azul é uma instituição que realiza encontros com o público a fim de promover a educação pela arte. O concerto faz parte do projeto “Sonâncias e Ressonâncias – Uma Ponte Poética entre o Rio de Janeiro e o Campo das Vertentes”, tendo como propósito difundir a formação de plateias musicais e abertura de novos palcos para apresentação de música de câmara e preleções filosóficas.
Confira a entrevista:
Como nasceu o seu contato com a música?
Nasci em Nova Iguaçu, no subúrbio do Rio de Janeiro. Minha mãe era professora de música e manteve uma escola por 47 anos. Eu cresci nesse universo. Minha mãe era uma educadora musical que tocava acordeom. Isso fortaleceu muito o meu contato com a música.
“Eu acredito que o trabalho da Confraria Nota Azul seja muito importante, visto que ela se propõe a trabalhar em muitas frentes. A educação musical é uma coisa importantíssima para atingir mais camadas da nossa sociedade”, afirma pianista.
Quais são os seus compositores favoritos?
Tenho muitos compositores que falam ao meu coração. Gosto de Bach, Chopin, Bethovem e Debussy. Sou muito grata a esses compositores por terem me dado uma base sólida. Eu também sempre toquei de ouvido e estive envolvida com a música popular. Profissionalmente minha vida é voltada para a música de concerto, tendo um pé na música brasileira.
Como foi a escolha do repertório para o concerto da Série Saraus Cariocas 2024?
Ele é baseado no recorte da minha vida musical. Eu começo com clássicos que fortaleceram a minha interpretação e a minha técnica, como Bach, Chopin e Debussy. Todos eles são responsáveis pela pianista que me tornei hoje. Depois eu entro na música do século XX com George Gershwin, que é um compositor pelo qual me apaixonei quando morei nos Estados Unidos. Prossigo com as minhas paixões que são Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth. Gravei muitas coisas dos dois e eles me abriram muitas portas. Haverá também o recorte da música de câmara, com um jovem muito talentoso e estudioso, o violinista Adriel Kelcio da Silva. Fiquei muito feliz em recebê-lo para que a gente tocasse junto uma peça de Ernesto Nazareth e Fauré. O concerto se encerra com uma peça conhecida e desafiadora para um violinista, Czardas (Monti). O programa foi pensado para um perfil como o dele.
Diante desse mundo marcado pelos discursos das redes sociais e a rapidez cada vez maior da vida cotidiana, que papel a música, como um ato de contemplação e acumulação do tempo, pode oferecer às pessoas?
Eu respiro e vivo música desde que nasci. A música tem um poder absurdo de aprofundar um pensamento e alertar as pessoas para uma forma de contemplação e apreciação. Ela também é um espelho de quem nós somos. A gente precisa lutar por um espaço para mostrar a música que eu faço. Ela tem um papel mais esclarecedor de ensino e mensagem. Existe uma massificação das artes. As redes sociais apresentam um papel tão diversificado, o que prejudica as pessoas que não sabem pesquisar. A gente está aqui para trazer essa informação para as pessoas. É importante informá-las que existem vários tipos de comunicação musical e que não somente aquele que estamos acostumados a ouvir. É importante ressaltar que a música também é uma ciência que exige estudo, investigação e pesquisa. Por isso estamos aqui tocando e desenvolvendo novas linguagens. A música para mim necessita de uma constante necessidade de conhecimento.
Concerto contará coma a participação do violinista Adriel Kelcio da Silva, integrante da OSB Jovem e Camerata Laranjeiras
O que ensino da música nas escolas pode oferecer às novas gerações?
A música sempre deveria ser ensinada nas escolas porque ela faz parte da Educação, assim como o ensino da Língua Portuguesa e os esportes. Hoje em dia temos ótimos profissionais gabaritados para exercer essa função no sistema de ensino. A educação musical se modernizou muito. Hoje ela trabalha com a realidade das pessoas. Temos projetos de ensino e pessoas muito interessadas em levar o ensino da música a todas as camadas sociais. Temos vistos excelentes resultados com relação a isso. Trazer o violinista Adriel Kelcio da Silva para esse concerto é uma prova de que a música pode dar certo, que ela transforma a vida e pode ser uma profissão digna e respeitada. Isso precisa ser divulgado.
A Confraria Nota Azul tem como foco promover o conhecimento através da arte. Que papel esse tipo de proposito tem dentro da nossa sociedade?
Eu acredito que o trabalho da Confraria Nota Azul seja muito importante, visto que ela se propõe a trabalhar em muitas frentes. A educação musical é uma coisa importantíssima para atingir mais camadas da nossa sociedade. Os concertos também têm uma relação com a arte e a filosofia, isso tudo são forças que fazem com que o movimento possa crescer. Fico muito feliz de poder fazer parte desse momento, pois me sinto acolhida e a vontade para fazer a música acontecer da melhor maneira possível.