Você leitor talvez não saiba, mas Raul Seixas caminhou sobre as ruas de Lavras. Sim, meu caro, o maior ídolo do rock tupiniquim pisou o chão da Terra dos Ipês e das Escolas.
O motivo? Um show. Foi numa noite do distante ano de 1977 que Rauzito subiu no palco montado no campo da Associação Olímpica de Lavras. Ele chegava para encerrar um festival de música na cidade.
O mais precioso registro desse momento – emaranhado por lendas nunca comprovadas, sem dúvida, foi descoberto pelo músico lavrense Chible Haddad. Foi graças a ele que as únicas imagens inéditas de Raul Seixas em solo lavrense vieram à tona em 2010.
O artista durante sua apresentação nem Lavras: atraso e portões abertos ao público
“Essas fotos ficaram esquecidas por 33 anos numa gaveta na cidade de Oliveira (MG), quando as encontrei. Muitas pessoas preferiam, por motivo que desconheço, não falar sobre o show até hoje”, afirma Chible.
Segundo relato do baixista e vocalista da banda Sua Mãe, a apresentação de Rauzito teria ocorrido de graça, visto que o cachê, supostamente, nunca teria sido pago pelo organizador do evento na época.
Chible relata que o portão do campo, a pedido de Rauzito, teria sido aberto para que o público, que não havia pago pelo ingresso, pudesse assistir ao show. O fato, no entanto, nunca pode ser comprovado.
Testemunhas
O empresário Carlos Mesquita, o “Galo”, então repórter da Rádio Cultura, entrevista Raul Seixas
Mas, 46 anos após esse show histórico na cidade, mesmo com tantas especulações e ralas lembranças, a história para em pé. Testemunhas ouvidas pelo Curta Lavras afirmam que Raul Seixas chegou a Lavras horas depois do horário marcado para o show naquele finado ano de 1977.
Com 18 anos na época, um lavrense, que preferiu não se identificar, estava no campo do Olímpica naquele show, onde o artista apresentava canções de seu quinto álbum, “Há 10 mil anos atrás”, lançado no ano anterior.
Carlos Mesquita ficou ao lado do ídolo de uma geração
Foi do alto da arquibancada que nossa testemunha ouviu Raul Seixas fazer piada com um dos seus versos mais famosos. Ao invés do famoso “Quem não tem colírio usa óculos escuro” – letra da canção “Como Vovó já Dizia”, parceria clássica dele com Paulo Coelho, o artista optara por um atrevido: “Quem não tem pinico, vai ali atrás do muro”.
O músico Chible Haddad descobriu as fotos inéditas de Raul Seixas registradas em Lavras
Já era começo da madrugada quando o artista baiano chegou ao campo da Olímpica, após deixar o Hotel Pinguim, onde estivera hospedado. Raul Seixas tinha na mão uma garrafa de vinho e muitas ideias na cabeça naquela ocasião.
Outra testemunha ocular desse momento, o empresário e ex-radialista da Rádio Cultura, Carlos Mesquita, o “Galo” (Minerva Vida), que na época entrevistou o roqueiro, fala com alegria daquele momento.
É ele, aliás, quem aparece ao lado de Rauzito junto do artista plástico lavrense Zé Rita numa das imagens que ilustram essa reportagem, as mesmas encontradas por Chible.
De A a Z
Rauzito se apresentou com uma garrafa de vinho e muita energia no palco
Para “Galo”, apresentador do programa de rádio “Tenda do Som” e autor da coluna musical da Tribuna de Lavras de mesmo nome, foi um momento único estar diante do ídolo.
Se a fita K7 com o bate-papo dele com o artista se perdeu (trinta minutinhos de conversa que valeriam por toda uma eternidade!), ficou na memória de Galo uma resposta de Rauzito que o marcaria para sempre.
“Raul, hoje você é um artista classe A. Como é isso para você”?, indagava o jovem repórter.
“Meu filho, não tem artista mais classe Z do que artista classe A”, responderia um afiado Raul Seixas.
“Quem não tem pinico, vai ali atrás do muro” cantou Raul Seixas durante show na cidade
Quando o show terminou, Raul Seixas pularia no mesmo o Opala para pegar a estrada, mas um dos pneus do veículo caiu numa vala no campo da Olímpica.
Ovacionado pela multidão que cercava o carro, o artista botou a cara para fora da janela e pediu que todos ajudassem a tirar o veículo daquela situação, o que foi prontamente atendido. A poeira deixada por Raul Seixas, no entanto, permanece na memória de muitos.