Mesmo sendo uma cidade majoritariamente católica, com 68.904 mil praticantes – segundo o Censo do IBGE de 2010, Lavras também se abre para a diversidade religiosa. É o que mostra uma pesquisa inédita da Universidade Federal de Lavras (Ufla), empreendida pelo doutorando Rafael Rodrigues de Castro, do Programa de Pós-Graduação em Administração.
A pesquisa, iniciada em 2022, tem como foco a relação entre governança pública e a diversidade religiosa. Um dos objetivos da pesquisa é fazer o levantamento de todos os locais de culto (por exemplo, igrejas, terreiros, centros espíritas), e os locais com vínculo religioso (por exemplo, praça, monumento, escola) presentes na cidade de Lavras.
Rafael aponta que a identificação dos locais de culto e dos locais com vínculo religioso tem sido feita de duas formas: “Primeiro temos utilizados as informações disponíveis no Google Maps, sites e mídias sociais, pois algumas organizações religiosas adicionaram um marcador de localização no Google Maps e/ou criaram um site ou conta em mídias sociais; A outra forma é caminhando pelos bairros de Lavras, no intuito de confirmar os locais encontrados pela internet e/ou identificar novos locais”.
Os resultados iniciais mostram que há na cidade 256 locais de culto (Evangélico, Católico, Afro-brasileira, Espírita, Testemunhas de Jeová, Múltiplo Pertencimento Religioso, Maçonaria, Budista e Mórmon) e 34 locais com vínculo religioso (Católico, Evangélico, Afro-brasileira, Espírita e Cristão).
Em referência ao Dia da Consciência Negra, a pesquisa traz dados que mostram a força das religiões Afro-brasileira em Lavras. Para se ter uma ideia, a cidade concentra hoje mais de 40 terreiros de candomblé e umbanda. Essas religiões reúnem quase 200 praticantes no município, segundo o Censo do IBGE de 2010, mas Rafael aponta que esses grupos costumam agregar pessoas de outras religiões, que convivem abertamente com credos diversos.
A pesquisa mostra também que a negritude tem um papel preponderante nas religiões pentecostais. Rafael afirma que esses grupos são formados por mulheres negras em sua maioria, que atuam de forma anônima na periferia da cidade, onde o poder público muitas vezes permanece ausente para oferecer melhores serviços de saúde, emprego e saneamento básico.
“Essas mulheres desenvolvem um importante papel social, ajudando os menos favorecidos e fortalecendo esses espaços periféricos. Algumas ocupam espaços de poder, desenvolvendo atividades como pastoras em igrejas, algo inimaginável em igrejas cristãs históricas”, avalia o pesquisador.
Como os pentecostais, outros grupos, oriundos do cruzamento do catolicismo, religiões Afro-brasileira e da cultura portuguesa, também optaram por criar espaços próprios de convivência, dando autonomia às vozes que muitas vezes são silenciadas dentro da sociedade. Ele cita os grupos de Congadas e Folias de Reis como exemplo desse tipo de fenômeno cultural com influências religiosas.
O mais importante da pesquisa, declara Rafael, é que ao levantar onde estão esses locais de culto, você dá há possibilidade das pessoas que moram ou visitam a cidade de Lavras conhecerem esses locais, caso elas queiram. Além disso, nos permite compreender como a diversidade religiosa está presente na cidade socio espacialmente, bem como gerar reflexões e proposições de políticas públicas e ações da sociedade para uma cultura de paz e de combate a intolerância religiosa e racismo religioso.
Um desafio que se torna cada vez mais urgente na sociedade contemporânea, marcada pela violência, desigualdade e intolerância religiosa. “É um trabalho que exige a compressão e o apoio de todos para que possamos mudar essa realidade”, finaliza o pesquisador.