O * arquiteto urbanista e paisagista lavrense Carlos Fernando de Moura Delphim prestou uma homenagem ao também arquiteto Samuel Alvarenga Filho, morto aos 79 anos, no último dia 9 de fevereiro. Sam Arquiteto, como ficou conhecido, era irmão de Iran Alvarenga, da SN Construtora.
Veja abaixo o texto.
Um anjo retorna ao céu: Tributo a Samuel Alvarenga Filho
“Solo venimos a dormir, solo venimos a soñar. No es verdad; no es verdad que venimos a vivir en la tierra”.
Poema asteca
A vida nos traz o amor, a amizade. A morte rouba o que ela nos dá. Quanto mais jovens, mais amamos, mais somos amados. Quanto mais velhos, mais desamparados. A rapidez com que transcorre nossas vidas torna mais suportável uma despedida definitiva. Há amigos cuja partida é por demais dolorosa. São os que mais alegraram nossas vidas, como raio de luz que se apagasse. Ao nos deixarem, nossos dias se tornam sombrios, perde-se a luz, esvai-se a alegria, a beleza emanada por essas criaturas às quais nos afeiçoamos.
Samuel Alvarenga Filho, o Sam, foi um desses seres amáveis que passaram por este mundo guiados pela Beleza. Muito talentoso, sempre desenhou muito bem. Criava muitas coisas como cenários para teatro; pintava retratos; concebia o vestuário para candidatas e vencedoras de concursos; aconselhava sobre o que era ou não de bom gosto fazer… Tendo se mudado para Belo Horizonte, onde foi estudar arquitetura, foi logo se destacando em disciplinas como desenho técnico e artístico. Desenhar perspectivas era algo muito difícil que ele executava melhor do que ninguém. Trabalhou na melhor loja de móveis de bom design da capital, orientando os clientes sobre o que comprar e como dispor os móveis em suas casas. Em boas companhias, frequentava todos os grandes eventos como cinemas, coquetéis, vernissages, shows…
Depois de formado, mudou-se para a capital paulista, onde desempenhou um trabalho invejável na empresa organizadora das mais espetaculares feiras do país, concebendo stands espetaculares, não só em São Paulo, mas no melhor hotel de Maceió, durante nove anos. Ao voltar a morar em Lavras, projetou várias residências de grande bom-gosto.
Um poema de Rimbaud parece destinado a esse amigo ao nos deixar: – Ele é o amor, medida perfeita e reinventada, razão maravilhosa e imprevista, e a Eternidade. (…) Ele nos conheceu a todos, e amou a todos nós. Hoje, o mundo perdeu um pedaço de sua alegria. Se a luz que fluía de Sam se apagou ao deixar este mundo de sofrimentos, seu espírito passa a se confundir com a luz da Eternidade. Nós, lavrenses, poderíamos dizer, como o poema de William Wordsworth: Ele está em seu túmulo agora, mas oh! a diferença para nós! Ele que tanto sonhou, hoje ele dorme para sonhar seu último sonho, seu sonho eterno.
* Com uma longa carreira no país e no exterior e vários livros publicados, Carlos Fernando de Moura Delphim foi contratado em 1977 para restaurar o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1985. Foi também o pioneiro na defesa dos jardins históricos no Brasil, passando a tratá-los como bens culturais segundo as normas internacionais de preservação. Atuou no Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN), no Rio de Janeiro, por décadas.