Em 11 de agosto de 1973, Cindy e seu irmão Clive, mais conhecido como DJ Kool Herc, organizaram uma festa num prédio de apartamentos de Nova York. Esse seria o embrião que daria origem a cultura Hip Hop no mundo todo.
Cinquenta anos depois, o movimento cultural, baseado nos pilares da dança, rima (letras), música (DJ), graffiti e conhecimento, tomou conta do planeta. Para o mais antigo representante do movimento em Lavras, Jesus Aparecido Pereira – o Zuza, a data é mais que especial. Figura lendária do meio, ele tem se mantido fiel ao gênero há 32 anos.
Zuza foi o organizador do primeiro show de Hip Hop na cidade em 2000, cujo cartaz ele guarda com carinho na parede de sua casa. Na época, ele precisou conter as desavenças de grupos rivais para que o evento acontecesse, reunindo todas as expressões que constituem a cultura urbana do movimento.
O grafiteiro de 46 anos é o fundador do Kativeiro do Hip Hop, espaço multifuncional criado em sua própria residência, localizada no bairro Vila Rica, onde oferece cursos, palestras, workshops, mantém um estúdio de gravação e um espaço para apresentações musicais.
No local há também assinaturas e trabalhos de grafiteiros renomados do país que por ali passaram. As obras de grafitagem de Zuza também estão espalhadas por vários pontos do bairro em que mora, mostrando que a arte demarca seus territórios a fim de criar novas percepções sobre a vida. Cores, desenhos e formas abrem portas para a imaginação.
Zuza tem mantido uma agenda de ações para marcar os 50 anos do surgimento do Hip Hop. Na Escola Estadual João Batista Hermento promoveu o projeto “Graffiti na Escola” e organizou o encontro “Hip Hop Fazendo Escola” nos dias 16 e 17 de setembro para comemorar o Mês e o Dia Municipal do Hip Hop. Ele organizou também a “Batalha do Morro”, uma batalha de rimas que acontece desde 2017 no bairro Nova Lavras.
O intuito é difundir os verdadeiros conceitos do movimento, que, segundo ele, muitas vezes são distorcidos por uma visão violenta e sexualizada que se tem das letras das canções. “Muita gente quer fazer Hip Hop só para ganhar dinheiro, mas o caminho não é esse”, observa.
“O movimento no Brasil ganhou respeitabilidade. Tivemos o Nelson Triunfo, Sabotage, Racionas MC’s e o DJ Erick Jay, que conquistou o 4º título mundial e o 3º no maior campeonato de DJs do mundo. Temos o trabalho dos grafiteiros Os Gêmeos. Nós amadurecemos muito ao longo dos últimos anos no país”, avalia.
Para ele, o movimento cultural trouxe também representatividade para a juventude da periferia, que passou a sentir orgulho do local onde nasceu. As letras das canções, os graffitis, a dança e a música ajudaram a moldar novas posturas diante dos desafios do mundo contemporâneo. Os jovens narram sua própria história, são protagonistas de suas vidas, segundo sua visão.
Zuza se desdobra entre palestras, cursos de graffiti e oferece suporte para gravação de novos músicos em seu estúdio caseiro, tudo isso para ajudar a expandir os pilares da cultura Hip Hop, sempre dialogando com grupos de outras cidades da região.
Ele não esconde que isso permanece no seu DNA. “A minha missão é continuar esse trabalho de conscientização para melhorar a vida das pessoas. Espero fazer isso pelos próximos 50 anos”, finaliza.