O presidente do Banco Central do Brasil (BC), Roberto Campos Neto, adotou um tom menos otimista para se referir à inflação global e brasileira. Durante um evento promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em homenagem ao ex-presidente da autarquia, Affonso Celso Pastore, falecido em fevereiro, o principal diretor da autoridade monetária disse que existe uma piora nas expectativas de inflação para este ano e o próximo.
Segundo Campos Neto, as principais causas para uma desancoragem das expectativas mais recentes para a inflação são o aumento no preço dos alimentos e a situação de calamidade pública no Rio Grande do Sul. Na avaliação do presidente do BC, estes fatores podem extrapolar ainda mais a meta de inflação para este ano, prevista em 3%.
De acordo com dados do Boletim Focus, a expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024, de acordo com os analistas que integram o relatório, saiu de 3,73% no final de abril para 3,8%, na última sondagem. Já as estimativas para o ano que vem saíram de 3,5%, em março, para 3,76% na publicação desta semana.
Atualmente, o governo trabalha com uma meta de 3% para 2024. Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad causou ruídos no mercado financeiro ao afirmar, em audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, que o objetivo seria “exigentíssimo” e “inimaginável”.
O presidente do Banco Central deu uma mensagem indireta para o governo, ao afirmar que a política fiscal deve andar lado a lado com a política monetária. “À medida que esse tema da dívida global começa a ficar mais claro para os governos, a gente já vê alguns governos da América Latina, por exemplo, refazendo planos para ter primários melhores, ter choque positivos nessa questão fiscal”, disse Campos Neto.
Alimentação eleva preços
Considerado um dos principais fatores para o aumento da inflação no Brasil e na maior parte do mundo, a escalada dos preços de alimentos preocupa a política monetária, como pontuou o presidente do BC. Em abril, o IPCA registrou um aumento de 0,7%, após ter subido 0,53% no mês anterior. O avanço só não foi maior que o apresentado pelos itens de saúde e cuidados pessoais.
Segundo o presidente, as expectativas para os próximos meses não são nada favoráveis para o preço dos alimentos e considerou que ainda há uma incógnita grande sobre o tema. “A gente sempre discute isso aqui no Brasil e parece que a gente não tem mais elementos para dizer que a gente vai ter uma inflação de alimentos caindo no mundo”, afirmou.