Uma das pesquisas agrícolas mais expressivas do século XX foi conduzida por um visionário engenheiro agrônomo brasileiro, Alfredo Scheid Lopes. É dele o estudo pioneiro sobre os solos do Cerrado, que revolucionou a agricultura no Brasil na década de 1970.” Assim começa um dos capítulos do Livro do Mérito 2024, uma homenagem do Sistema Confea/Crea e Mútua, que reconhece contribuições significativas ao progresso da ciência, tecnologia, artes e desenvolvimento socioeconômico do Brasil. O homenageado, professor emérito da Universidade Federal de Lavras (UFLA), era conhecido por todos como Alfredão, referência do Departamento de Ciência do Solo da Escola de Ciências Agrárias (DCS/Esal), no Brasil e no mundo.
A homenagem foi prestada durante a 79ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea), realizada em Salvador (BA), de 7 a 10 de outubro. A indicação partiu do professor Cleiton Lourenço de Oliveira (Esal/UFLA), conselheiro da Câmara Especializada de Agronomia no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG), e foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea).
A pedido da família, o professor Cleiton recebeu a homenagem em nome dos filhos e da esposa de Alfredão, que incluía uma placa, um certificado e a inscrição no Livro do Mérito, cuja cópia da edição impressa ficará na Reitoria da UFLA.
Para o reitor da UFLA, professor José Roberto Scolforo, a trajetória do professor Alfredo Scheid Lopes é um exemplo notável de como a ciência, quando aliada à visão de futuro, pode transformar uma nação. “Sua abordagem pioneira sobre a fertilidade do solo no Cerrado não apenas revolucionou a agricultura brasileira, mas também mostrou ao mundo o poder do conhecimento científico na produção de alimentos. Ele nos ensinou que o desafio de alimentar o Brasil passava pela compreensão profunda do nosso solo. Sempre que falamos sobre sustentabilidade, segurança alimentar e inovação, estamos, de certa forma, falando sobre o legado dele. A UFLA se orgulha de ter em sua história um nome tão relevante, e é nossa responsabilidade manter viva essa memória, buscando soluções que assegurem o futuro alimentar para todas as pessoas”, pontuou
O professor Cleiton destaca a homenagem como um tributo merecido. “O professor Alfredão sempre nos lembrava que o agronegócio não é só soja, milho e trigo; é também a agricultura familiar, que coloca 70% dos alimentos em nossas mesas. Se não fosse pelo trabalho dele há 50 anos, a cesta básica hoje seria três vezes mais cara. Ele pensava à frente do seu tempo e, ao buscar soluções no exterior, sempre focou em resolver os nossos problemas. Levou mais de uma tonelada de amostras de solo do Cerrado para os Estados Unidos, com o objetivo de transformar nossa agricultura. Hoje, cada prato de comida carrega essa história. O legado dele é um exemplo de como o passado pode iluminar o futuro”, destacou.
O Legado na Agricultura e na UFLA
Nascido em Minduri/MG, Alfredo Scheid Lopes deixou uma contribuição inestimável para a ciência do solo e o desenvolvimento da agricultura brasileira. Formado em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura de Lavras (Esal), atual UFLA, em 1961, ele dedicou mais de 60 anos de sua vida à instituição e à pesquisa científica. Foi um dos grandes responsáveis pela transformação do Cerrado em uma das mais produtivas regiões agrícolas do Brasil.
Seu doutorado na Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, foi um marco na agricultura do Brasil. Com visão de futuro, levou uma tonelada e meia de solos do Cerrado para pesquisas, possibilitando avanços na fertilidade e produtividade da região. Ele sempre destacou a importância da agricultura familiar, que é responsável por 70% dos alimentos consumidos no País.
Reconhecido por sua dedicação, ocupou diversos cargos na UFLA e foi homenageado inúmeras vezes pelos estudantes. Mesmo após se aposentar, continuou frequentando o campus, contribuindo com traduções, esclarecimentos e motivando os estudantes. Entre os inúmeros prêmios que recebeu ao longo da carreira, destaca-se o título de professor emérito da UFLA, conferido em 1993.
Além dos atributos que o fizeram um acadêmico de referência, era alegre e carismático. Dizia sempre que a Universidade era a realização de um projeto de vida. “A UFLA é para mim um grande amor à primeira vista, que só se perpetuou”. Sua produção científica está disponibilizada em um site (www.alfredao. com.br), no qual também apresenta seus hobbies, como música e artesanato, conquistas no esporte e histórias curiosas. Entre os caos, o dia em que enfrentou o jogador Pelé, em 1957, pelo Fabril Esporte Clube de Lavras. O jogo ficou em 7 X 2, sendo os dois gols do jovem Alfredo.
O mais recente tributo ao professor foi realizado durante o aniversário de 116 anos da UFLA, quando a Editora UFLA apresentou uma edição de sua obra traduzida, “Propriedades e Manejos de Solos nos Trópicos”. A homenagem foi conduzida pelo amigo e professor Luiz Roberto Guimarães Guilherme, que enalteceu o seu legado e trajetória.
Acesse o Livro do Mérito e conheça os laureados.
Visite o resgate da trajetória do professor Alfredo Lopes no site Mémórias UFLA
Na foto: o conselheiro federal Luiz Lucchesi, professor Cleiton de Oliveira, o presidente do Confea Vinícius Marchese e o presidente do Crea-BA, Joseval Carqueja. (crédito – Confea)