A Universidade Federal de Lavras (UFLA) registrou sua primeira defesa de dissertação de mestrado de uma estudante surda: Rita de Cassia Marinho, do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática (PPGECEM). Seu trabalho, que culminou na criação de um guia com atividades para o ensino de Matemática a estudantes surdos, foi apresentado em 22/8, no Salão dos Conselhos da Reitoria da UFLA.
Intitulada “Percepção de surdos cientes sobre sua formação e práticas pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem de matemática”, a dissertação foi defendida de forma bilíngue, utilizando tanto a Língua Brasileira de Sinais (Libras) quanto o Português.
Considerada um marco extremamente importante para o PPGECEM e a UFLA, a dissertação foi orientada pela professora Rosana Maria Mendes, do Departamento de Educação em Ciências Físicas e Matemática (DFM).
A banca examinadora foi composta pelas professoras Josiane Marques da Costa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Érica Alves Barbosa, também da UFLA, e Marília Ignatius Nogueira Carneiro, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). O vice-reitor da UFLA e reitor em exercício na ocasião, professor Jackson Antônio Barbosa, esteve presente parabenizando a estudante e todos que contribuíram com a sua jornada acadêmica.
A dissertação defendida baseia-se nos Estudos Surdos, explorando temas como educação bilíngue, bidocência e inclusão. A pesquisa investiga as percepções de surdos docentes de Matemática sobre sua formação e os saberes necessários para a prática pedagógica com Surdas e Surdos estudantes. Para isso, foram realizadas entrevistas sinalizadas com dois docentes, abordando aspectos como identidade Surda, cultura, didática Surda, estratégias visuais e a importância do português.
Para Rita de Cassia Marinho, seu maior aprendizado ao produzir a dissertação foi a compreensão profunda de que a persistência é a chave para superar desafios: “Durante o processo, enfrentei diversas dificuldades, mas com determinação e busca contínua por conhecimento consegui concluir esse trabalho tão importante. Essa experiência me ensinou a importância de acreditar em mim mesma e no poder da educação como ferramenta de transformação.”
Rita, que é formada em Normal Superior e em Letras Libras, atua como professora de Libras. É tutora no Polo UFLA pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), no Centro de Educação e Apoio às Necessidades Auditivas e Visuais (Cenav) e no Atendimento Educacional Especializado (AEE). Ela planeja seguir na carreira acadêmica e continuar seus estudos em um doutorado: “Acredito que ainda tenho muito a contribuir e aprender, e quero dar continuidade à minha formação para continuar abrindo caminhos para outras pessoas Surdas”, afirma a agora mestra.
Sobre o uso do “S” maiúsculo em Surdo/Surda:
O “S” maiúsculo é usado para nos referirmos ao grupo de pessoas que se identificam com a cultura Surda, ou seja, a Comunidade Surda. Por isso, utilizamos “Surdo” ou “Surda” com “S” maiúsculo quando falamos de identidade cultural, como em “sou Surda” ou “estudante Surda”. Já o termo com inicial minúscula é utilizado para se referir à condição clínica, ou seja, à perda auditiva em si.