O mais importante setor da economia brasileira, o agronegócio, ganha destaque no Curta Lavras. A reportagem do site conversou com exclusividade com Celso Moretti, pesquisador, professor em diversas universidades brasileiras e internacionais, palestrante e ex-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que passou por Lavras no último final de semana.
Moretti é mestre e doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e liderou projetos nacionais e internacionais financiados pelo CNPq, Banco Mundial, Embrapa e iniciativa privada.
Há 29 anos na EMBRAPA, ele deixou a direção da instituição, após quatro anos, em maio passado. Com um pedido de licença na empresa de três anos, ele abriu uma firma de consultoria e lidera uma instituição sem fins lucrativos em Londres.
Veja a seguir a entrevista exclusiva ao Curta Lavras:
Qual a importância da Embrapa para o país?
A Embrapa comemorou 50 anos de fundação no ano passado. Temos 43 centros de pesquisa espalhados pelos país, contamos com oito mil colaboradores e um orçamento de R$ 3.8 bilhões que gera tecnologia e transforma o Brasil.
Há 50 atrás o Brasil o Brasil importava leite dos EUA, feijão do México e carne da Europa. Por iniciativa da Embrapa, mais de mil novos pesquisadores contratados foram estudar fora do país, retornaram a implantaram um modelo de agricultura tropical, cooperativa e sustentável.
Passamos da condição de importador, para a de exportador. Tínhamos uma produção com 50 milhões de toneladas de grãos, hoje nossa última safra registrou 310 milhões de toneladas de grãos.
O Brasil tem 851 milhões de hectares de área, mas o setor da agricultura, pecuária e floresta ocupa apenas 30% deste espaço. Hoje temos 63,3% o território brasileiro protegido ou preservado na forma de matas e florestas nativas. Os dados são da Agência Espacial Americana (NASA).
O país tem a capacidade de alimentar 900 milhões de pessoas. Somos o maior produtor de soja, suco de laranja e café do mundo, e o segundo na produção de etanol e biodiesel. Em breve vamos passar os Estados Unidos na produção de milho.
O ex-Ministro da Agricultura, ex-diretor da Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL), meu amigo Alisson Paulinelli, afirmava que o Brasil seria o maior produtor de alimentos e bioenergéticos em 2050. Para mim, isso acontecerá antes de 2030.
Por que o agronegócio se difere em crescimento com relação à indústria brasileira?
O agronegócio brasileiro tem investido de maneira persistente em tecnologia, treinamento, formação e políticas públicas que tem a ciência por base, ao contrário da indústria nacional, que não se cansa de pedir subsídios. Além disso, temos uma grande representatividade de parlamentares na Câmara Federal e no Senado Federal. Hoje qual a política de industrialização que temos no Brasil? Nós costumamos lembrar do Ministros da Agricultura, mas não dos Ministros da Industria, Comércio e Serviços.
Quais são as principais tendenciais para o setor?
A sustentabilidade está na pauta do agronegócio brasileiro. O setor busca uma agricultura regenerativa. O uso da tecnologia é outro fator importante (sensores, uso de drones, inteligência artificial e Internet). Por último, a questão dos transgénicos e da edição genômica de plantas e animais. Isso já é uma realidade.
Qual o maior desafio hoje para o agronegócio?
O agronegócio brasileiro importa 85% dos fertilizantes. Foi um erro estratégico de nossa parte. A Petrobrás produz gás natural, que poderia ser utilizado na produção de fertilizantes, mas isso esbarra na questão da nossa legislação ambiental. Também há uma preocupação em se adaptar e mitigar as mudanças climáticas diante de tantos eventos extremos. Esse será outro grande desafio, bem como a questão da gestão rural.