quinta-feira , 19 setembro 2024
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Curta Lavras foi conhecer a Fábrica da Esperança do Presídio de Lavras

Presos que participam do projeto Fábrica da Alegria: produção de brinquedos pedagógicos destinados para instituições.

Quem passa pelo Presídio de Lavras, na avenida Ernesto Matiolli, não imagina que por detrás dos seus muros existem dezenas de vidas que lutam por dias melhores através de um amplo trabalho de ressocialização desenvolvido pela instituição.

Para conhecer de perto essa realidade, desconhecida pela maioria da população lavrense, a reportagem do Curta Lavras mergulhou no cotidiano do projeto desenvolvido pela unidade prisional. O presídio é uma cidade dentro de uma outra cidade. Um universo muito particular e único.

Peças produzidas por detentos fazem a alegria de crianças e instituições durante o ano todo. 

Fomos ao encontro de pessoas muitas vezes desacreditadas e hostilizadas pela sociedade, mas que desejam ter uma vida digna, honesta e ordeira. São cidadãos que sonham com dias melhores, mas que trabalham duro para conseguir alcançar seus objetivos. Trabalho, disciplina e esperança são palavras de ordem para eles.

A diretora-geral do Presídio de Lavras, Anamaria Borges Pereira, ao lado do gerente de produção da unidade, Rogério Rangel de Lima, e o policial penal Rodrigo Candido do Santos.  

Desde 2019, o Presídio de Lavras conta com uma marcenaria voltada para a fabricação de brinquedos pedagógicos. O projeto Fábrica da Alegria, mantido através de subsídios do Governo do Estado e doações de instituições parcerias, é responsável pela fabricação mensal de mais de 200 brinquedos. Os presos mantém uma jornada de trabalho diário de 8h.

Presídio de Lavras conta com linha de produção da Cofap: 43 mil selos para amortecedores são fabricados todos os dias.  

Toda a produção é distribuída para dezenas instituições da cidade e enviados para Belo Horizonte. Com a chegada do Natal, a produção de brinquedos aumenta devido a demanda. Trata-se de uma iniciativa do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG), que conta com outras unidades com esse mesmo modelo de gestão.

 A unidade prisional de Lavras mantém uma linha de montagem em parceria com a Cofap voltada para fabricação de selos de amortecedores. São produzidas mais de 43 mil peças do produto ao dia. Desde 2017, a empresa também foi responsável pela profissionalização de 47 presos da unidade prisional.

Detentos na marcenaria da unidade prisional: jornada de trabalho tem oito horas de duração.

Para participar dos programas, os presos precisam apresentar bom comportamento e ter seus históricos analisados por uma comissão formada por vários profissionais. Eles contam ainda com remissão da pena a cada dia trabalhado, têm acesso a visitas sociais e religiosas, trabalho externo e e atendimento de profissionais das áreas de Assistência Social, Direito, Medicina, Pedagogia e Psicologia.

Esforços

A diretora-geral do Presídio de Lavras, Anamaria Borges Pereira, lembra que os projetos nasceram através do trabalho pioneiro do ex-subdiretor da instituição, Fabio Pereira Marcos, cuja missão era formar homens novos para a sociedade. “Esse projeto me deu esperança. Nossa participação nesse processo é fundamental. A gente cresce e aprende junto com os presos. Nós vemos de perto a evolução de cada um deles”, relata.

Peças fabricadas por detentos no projeto Fábrica da Alegria. 

O policial penal Rodrigo Candido do Santos acompanhou todo o processo de implantação dos programas de ressocialização do presídio. Para ele, o mais importante foi resgatar a identidade de cada preso. Com acesso a todo o complexo prisional, ele conhece de perto a história de cada detento.

“Este trabalho serve para gerar oportunidades para os presos. Muitos saem daqui com uma profissão. O produto que é fabricado é apenas o resultado, mas o mais importante é o processo formativo, isto é, a autoestima e a disciplina conquistadas por eles”, destaca.

Rogério Rangel de Lima, gerente de produção da unidade, testemunha o esforço de cada detento envolvido no processo de fabricação dos produtos, o que possibilita a busca por qualidade. Ele tem a certeza de que muitos deles se tornarão pessoas úteis dentro da sociedade. O subdiretor do Presídio de Lavras,  Thiago Douglas Cândido Guedes, também é um dos nomes que integram o time que comanda toda a estrutura do projeto.

Presos na linha de produção de brinquedos pedagógicos. 

Líder da equipe de policias penitenciários da instituição, Débora Cristina Donato de Oliveira, teve seu trabalho de conclusão do curso de Educação Física voltado para uma pesquisa na área do sistema prisional. Ela também é testemunha da importância da iniciativa.

“Gosto muito do que eu faço, apesar da falta de estrutura do espaço. É gratificante quando encontramos pessoas que passaram pelo presídio nas ruas da cidade. Eles agradecem o nosso trabalho. Os que retornam voltam com vergonha porque não aproveitaram as oportunidades”, conta.

Débora Cristina Donato de Oliveira (à esquerda), líder da equipe de policias do Presídio de Lavras. 

 

O subdiretor do Presídio de Lavras,  Thiago Douglas Cândido Guedes.

Depoimentos

“A ressocialização me deu o real valor do trabalho. Eu não tinha essa percepção quando estava fora do presídio. A gente passa a se ver como cidadão, não como preso. Queremos mostrar algo novo, não o que ficou para trás. Hoje podemos andar de cabeças erguidas e com vidas novas”

Denis Alves da Silva, preso há dois anos e quatro meses pelo crime de tráfico de drogas.

“Eu nunca soube trabalhar com madeira, hoje aprendi a fazer várias coisas. Tenho planos de continuar trabalhando como marceneiro. O trabalho do Presídio de Lavras é ressocializar, é colocar algo novo na vida da gente”.

Diogo Vitor Santos, preso há dois anos e nove meses pelo crime de tráfico de drogas.

“Hoje tenho a certeza que a vida ressocializada é bem melhor. O crime não compensa. Pretendo retomar a minha vida, viver ao lado da minha esposa e dos meus filhos e continuar indo à igreja”.

Valdir Roberto Lélis, preso há seis anos e meio pelo crime de homicídio.  

“A gente é desacreditado pelas empresas, mas a oportunidade concedida aqui é o recomeço de uma vida nova lá fora. A gente vê que a vida do crime não compensa”.

Edson Fernando de Andrade, preso há quatro anos e dez meses pelo crime de tráfico.

 “Quero agradecer a toda equipe do presídio que nos deu a oportunidade e os recursos necessários para a gente produzir os brinquedos que são doados. Eu me sinto muito feliz por ajudar uma pessoa que não tem condições de ter um brinquedo. Estamos remindo os pecados sabendo que estamos ajudando as crianças necessitadas”.

Djalma Junqueira Oliveira, preso há dois anos pelo crime de roubo.

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