Luiz Henrique de Almeida é o último dos moicanos. Ele herdou com orgulho o legado da mais antiga barbearia em atividade de Lavras, o Salão Cristal, que comemorou 115 anos.
Quando comparado com outros concorrentes sofisticados que pipocam pela cidade, o Salão Cristal é o que se poderia chamar de “barbearia raiz”. A marca centenária aposta na simplicidade e no bom atendimento. Ela ignora as novas tendências do mercado.
Folheto de propaganda do Salão Cristal datado de 1940 informava horário de bondes e trens.
A barbearia mantém parte do mobiliário original, composto de um espelho e duas cadeiras. As paredes do imóvel são tomadas por quadros. O salão abre seu espaço para artistas locais mostrarem seus trabalhos na forma de fotografia, quadros e desenhos. O passado e o presente convivem de forma harmoniosa.
Essa experiência compartilhada entre amigos e clientes, ajuda a entender a dinâmica do Salão Cristal. Muito mais que um comércio, ele representa um espaço de convivência diária, que preza por um ambiente familiar.
Casarão colonial do capitão Evaristo Alves foi o primeiro endereço do Salão Cristal. Local hoje abriga a agência do Banco do Brasil.
Hoje proprietário da marca, Luiz Almeida guarda com orgulho um pequeno cartaz de propaganda do salão datado dos anos 1940, onde se lê os horários de funcionamento dos bondes e dos trens. Uma relíquia que testemunha uma Lavras bucólica, quase paradisíaca.
Cadeiras de barbeiro centenárias são usadas até hoje no estabelecimento.
Ele conviveu com os antigos proprietários do salão, os sócios João Pomarico (João Bambu) e Júlio Costa. Começou na profissão como aprendiz a fim de seguir os passos do pai, João Venâncio, que deixou Luminárias, sua terra natal, para ganhar a vida como barbeiro na Terra dos Ipês e das Escolas. Na empresa há 40 anos, o empresário não pensa em se aposentar tão cedo.
Personas
Aos 60 anos de idade, o barbeiro se lembra de clientes famosos que passaram pelo Salão Cristal, tais como: Abram Krasinski, Rubem Alves, Alfredo Cheid Lopes, Carlos Ramires de Rezende e Silva, Luíz Antônio Bastos Andrade (Chacrinha), Paulo de Souza, Nelson Figueiredo, Tautimil Libeck e Bi Moreira. Uma turma da pesada. Ele cita também os barbeiros Paulinho Divino e Sô Marani, figuras lendárias que trabalharam no local.
Nos seus primórdios, o salão funcionou no antigo casarão do Coronel Evaristo Alves – onde hoje existe a agência do Banco Brasil. O proprietário do imóvel, alvo de um incêndio criminoso que o destruiu, era avó do escritor, teólogo e educador Rubem Alves (1933-2014). O estabelecimento também manteve suas atividades em outros endereços pela cidade, até fixar-se definitivamente na rua Barbosa Lima, número 494, onde permanece há 26 anos.
Salão Cristal tem espaço para exposições de artistas da cidade: passado e presente estão em diálogo.
Luiz Henrique afirma que a cadeira do barbeiro é um misto de divã e confessionário. É um lugar em que muitos clientes abrem o coração, por isso é preciso ter uma ética profissional para lidar com todo tipo de situação. Apesar das novas tecnologias, ele acredita que sua profissão continuará a ser exercida por seres humanos, já que as máquinas não serão capazes de executar um bom corte de cabelo.
“Eu só tenho a agradecer. Meu pai dizia para mim: você nunca vai ver um barbeiro rico, nem também um barbeiro sem dinheiro no bolso. Agradeço meus clientes e amigos. Sou um profissional realizado” finaliza Luiz Henrique.
Fundada há 115 anos, barbearia é a mais antiga em atividade na cidade.
